Jesus perante Pilatos e perante Herodes

(Mt 27.1-2,11-31; Mc 15.1-15; Jo 18.28—19.16)

1 E, levantando-se toda a multidão deles, o levaram a Pilatos.

2 E começaram a acusá-lo, dizendo: Havemos achado este pervertendo a nossa nação, proibindo dar o tributo a César e dizendo que ele mesmo é Cristo, o rei.

3 E Pilatos perguntou-lhe, dizendo: Tu és o Rei dos judeus? E ele, respondendo, disse-lhe: Tu o dizes.

4 E disse Pilatos aos principais dos sacerdotes e à multidão: Não acho culpa alguma neste homem.

5 Mas eles insistiam cada vez mais, dizendo: Alvoroça o povo ensinando por toda a Judéia, começando desde a Galiléia até aqui.

6 Então, Pilatos, ouvindo falar da Galiléia, perguntou se aquele homem era galileu.

7 E, sabendo que era da jurisdição de Herodes, remeteu-o a Herodes, que também, naqueles dias, estava em Jerusalém.

8 E Herodes, quando viu a Jesus, alegrou-se muito, porque havia muito que desejava vê-lo, por ter ouvido dele muitas coisas; e esperava que lhe veria fazer algum sinal.

9 E interrogava-o com muitas palavras, mas ele nada lhe respondia.

10 E estavam os principais dos sacerdotes e os escribas acusando-o com grande veemência.

11 E Herodes, com os seus soldados, desprezou-o, e, escarnecendo dele, vestiu-o de uma roupa resplandecente, e tornou a enviá-lo a Pilatos.

12 E, no mesmo dia, Pilatos e Herodes, entre si, se fizeram amigos; pois, dantes, andavam em inimizade um com o outro.

13 E, convocando Pilatos os principais dos sacerdotes, e os magistrados, e o povo, disse-lhes:

14 Haveis-me apresentado este homem como pervertedor do povo; e eis que, examinando-o na vossa presença, nenhuma culpa, das de que o acusais, acho neste homem.

15 Nem mesmo Herodes, porque a ele vos remeti, e eis que não tem feito coisa alguma digna de morte.

16 Castigá-lo-ei, pois, e soltá-lo-ei.

17 E era-lhe necessário soltar-lhes um detento por ocasião da festa.

18 Mas toda a multidão clamou à uma, dizendo: Fora daqui com este e solta-nos Barrabás.

19 Barrabás fora lançado na prisão por causa de uma sedição feita na cidade e de um homicídio.

20 Falou, pois, outra vez Pilatos, querendo soltar a Jesus.

21 Mas eles clamavam em contrário, dizendo: Crucifica-o! Crucifica-o!

22 Então, ele, pela terceira vez, lhes disse: Mas que mal fez este? Não acho nele culpa alguma de morte. Castigá-lo-ei, pois, e soltá-lo-ei.

23 Mas eles instavam com grandes gritos, pedindo que fosse crucificado. E os seus gritos e os dos principais dos sacerdotes redobravam.

24 Então, Pilatos julgou que devia fazer o que eles pediam.

25 E soltou-lhes o que fora lançado na prisão por uma sedição e homicídio, que era o que pediam; mas entregou Jesus à vontade deles.

Jesus a caminho do Gólgota

26 E, quando o iam levando, tomaram um certo Simão, cireneu, que vinha do campo, e puseram-lhe a cruz às costas, para que a levasse após Jesus.

27 E seguia-o grande multidão de povo e de mulheres, as quais batiam nos peitos e o lamentavam.

28 Porém Jesus, voltando-se para elas, disse: Filhas de Jerusalém, não choreis por mim; chorai, antes, por vós mesmas e por vossos filhos.

29 Porque eis que hão de vir dias em que dirão: Bem-aventuradas as estéreis, e os ventres que não geraram, e os peitos que não amamentaram!

30 Então, começarão a dizer aos montes: Caí sobre nós! E aos outeiros: Cobri-nos!

31 Porque, se ao madeiro verde fazem isso, que se fará ao seco?

32 E também conduziram outros dois, que eram malfeitores, para com ele serem mortos.

A crucificação

(Mt 27.33-56; Mc 15.22-41; Jo 19.17-30)

33 E, quando chegaram ao lugar chamado a Caveira, ali o crucificaram e aos malfeitores, um, à direita, e outro, à esquerda.

34 E dizia Jesus: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem. E, repartindo as suas vestes, lançaram sortes.

35 E o povo estava olhando. E também os príncipes zombavam dele, dizendo: Aos outros salvou; salve-se a si mesmo, se este é o Cristo, o escolhido de Deus.

36 E também os soldados escarneciam dele, chegando-se a ele, e apresentando-lhe vinagre,

37 e dizendo: Se tu és o Rei dos judeus, salva-te a ti mesmo.

38 E também, por cima dele, estava um título, escrito em letras gregas, romanas e hebraicas: Este é o Rei dos Judeus.

39 E um dos malfeitores que estavam pendurados blasfemava dele, dizendo: Se tu és o Cristo, salva-te a ti mesmo e a nós.

40 Respondendo, porém, o outro, repreendia-o, dizendo: Tu nem ainda temes a Deus, estando na mesma condenação?

41 E nós, na verdade, com justiça, porque recebemos o que os nossos feitos mereciam; mas este nenhum mal fez.

42 E disse a Jesus: Senhor, lembra-te de mim, quando entrares no teu Reino.

43 E disse-lhe Jesus: Em verdade te digo que hoje estarás comigo no Paraíso.

44 E era já quase a hora sexta, e houve trevas em toda a terra até à hora nona,

45 escurecendo-se o sol; e rasgou-se ao meio o véu do templo.

46 E, clamando Jesus com grande voz, disse: Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito. E, havendo dito isso, expirou.

47 E o centurião, vendo o que tinha acontecido, deu glória a Deus, dizendo: Na verdade, este homem era justo.

48 E toda a multidão que se ajuntara a este espetáculo, vendo o que havia acontecido, voltava batendo nos peitos.

A sepultura de Jesus

(Mt 27.57-61; Mc 15.42-47; Jo 19.38-42)

49 E todos os seus conhecidos e as mulheres que juntamente o haviam seguido desde a Galiléia estavam de longe vendo essas coisas.

50 E eis que um homem por nome José, senador, homem de bem e justo

51 (que não tinha consentido no conselho e nos atos dos outros), natural de Arimatéia, cidade dos judeus, e que também esperava o Reino de Deus,

52 este, chegando a Pilatos, pediu o corpo de Jesus.

53 E, havendo-o tirado, envolveu-o num lençol e pô-lo num sepulcro escavado numa penha, onde ninguém ainda havia sido posto.

54 E era o Dia da Preparação, e amanhecia o sábado.

55 E as mulheres que tinham vindo com ele da Galiléia seguiram também e viram o sepulcro e como foi posto o seu corpo.

56 E, voltando elas, prepararam especiarias e ungüentos e, no sábado, repousaram, conforme o mandamento.

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