A parábola do semeador

(Mc 4.1-20; Lc 8.4-15)

1 Tendo Jesus saído de casa naquele dia, estava assentado junto ao mar.

2 E ajuntou-se muita gente ao pé dele, de sorte que, entrando num barco, se assentou; e toda a multidão estava em pé na praia.

3 E falou-lhe de muitas coisas por parábolas, dizendo: Eis que o semeador saiu a semear.

4 E, quando semeava, uma parte da semente caiu ao pé do caminho, e vieram as aves e comeram-na;

5 e outra parte caiu em pedregais, onde não havia terra bastante, e logo nasceu, porque não tinha terra funda.

6 Mas, vindo o sol, queimou-se e secou-se, porque não tinha raiz.

7 E outra caiu entre espinhos, e os espinhos cresceram e sufocaram-na.

8 E outra caiu em boa terra e deu fruto: um, a cem, outro, a sessenta, e outro, a trinta.

9 Quem tem ouvidos para ouvir, que ouça.

10 E, acercando-se dele os discípulos, disseram-lhe: Por que lhes falas por parábolas?

11 Ele, respondendo, disse-lhes: Porque a vós é dado conhecer os mistérios do Reino dos céus, mas a eles não lhes é dado;

12 porque àquele que tem se dará, e terá em abundância; mas aquele que não tem, até aquilo que tem lhe será tirado.

13 Por isso, lhes falo por parábolas, porque eles, vendo, não vêem; e, ouvindo, não ouvem, nem compreendem.

14 E neles se cumpre a profecia de Isaías, que diz: Ouvindo, ouvireis, mas não compreendereis e, vendo, vereis, mas não percebereis.

15 Porque o coração deste povo está endurecido, e ouviu de mau grado com seus ouvidos e fechou os olhos, para que não veja com os olhos, e ouça com os ouvidos, e compreenda com o coração, e se converta, e eu o cure.

16 Mas bem-aventurados os vossos olhos, porque vêem, e os vossos ouvidos, porque ouvem.

17 Porque em verdade vos digo que muitos profetas e justos desejaram ver o que vós vedes e não o viram, e ouvir o que vós ouvis, e não o ouviram.

18 Escutai vós, pois, a parábola do semeador.

19 Ouvindo alguém a palavra do Reino e não a entendendo, vem o maligno e arrebata o que foi semeado no seu coração; este é o que foi semeado ao pé do caminho;

20 porém o que foi semeado em pedregais é o que ouve a palavra e logo a recebe com alegria;

21 mas não tem raiz em si mesmo; antes, é de pouca duração; e, chegada a angústia e a perseguição por causa da palavra, logo se ofende;

22 e o que foi semeado entre espinhos é o que ouve a palavra, mas os cuidados deste mundo e a sedução das riquezas sufocam a palavra, e fica infrutífera;

23 mas o que foi semeado em boa terra é o que ouve e compreende a palavra; e dá fruto, e um produz cem, outro, sessenta, e outro, trinta.

A parábola do trigo e do joio

24 Propôs-lhes outra parábola, dizendo: O Reino dos céus é semelhante ao homem que semeia boa semente no seu campo;

25 mas, dormindo os homens, veio o seu inimigo, e semeou o joio no meio do trigo, e retirou-se.

26 E, quando a erva cresceu e frutificou, apareceu também o joio.

27 E os servos do pai de família, indo ter com ele, disseram-lhe: Senhor, não semeaste tu no teu campo boa semente? Por que tem, então, joio?

28 E ele lhes disse: Um inimigo é quem fez isso. E os servos lhe disseram: Queres, pois, que vamos arrancá-lo?

29 Porém ele lhes disse: Não; para que, ao colher o joio, não arranqueis também o trigo com ele.

30 Deixai crescer ambos juntos até à ceifa; e, por ocasião da ceifa, direi aos ceifeiros: colhei primeiro o joio e atai-o em molhos para o queimar; mas o trigo, ajuntai-o no meu celeiro.

As parábolas do grão de mostarda e do fermento

(Mc 4.30-34; Lc 13.18-21)

31 Outra parábola lhes propôs, dizendo: O Reino dos céus é semelhante a um grão de mostarda que um homem, pegando dele, semeou no seu campo;

32 o qual é realmente a menor de todas as sementes; mas, crescendo, é a maior das plantas e faz-se uma árvore, de sorte que vêm as aves do céu e se aninham nos seus ramos.

33 Outra parábola lhes disse: O Reino dos céus é semelhante ao fermento que uma mulher toma e introduz em três medidas de farinha, até que tudo esteja levedado.

34 Tudo isso disse Jesus por parábolas à multidão e nada lhes falava sem parábolas,

35 para que se cumprisse o que fora dito pelo profeta, que disse: Abrirei em parábolas a boca; publicarei coisas ocultas desde a criação do mundo.

Explicação da parábola do joio

36 Então, tendo despedido a multidão, foi Jesus para casa. E chegaram ao pé dele os seus discípulos, dizendo: Explica-nos a parábola do joio do campo.

37 E ele, respondendo, disse-lhes: O que semeia a boa semente é o Filho do Homem,

38 o campo é o mundo, a boa semente são os filhos do Reino, e o joio são os filhos do Maligno.

39 O inimigo que o semeou é o diabo; e a ceifa é o fim do mundo; e os ceifeiros são os anjos.

40 Assim como o joio é colhido e queimado no fogo, assim será na consumação deste mundo.

41 Mandará o Filho do Homem os seus anjos, e eles colherão do seu Reino tudo o que causa escândalo e os que cometem iniqüidade.

42 E lançá-los-ão na fornalha de fogo; ali, haverá pranto e ranger de dentes.

43 Então, os justos resplandecerão como o sol, no Reino de seu Pai. Quem tem ouvidos para ouvir, que ouça.

As parábolas do tesouro escondido, da pérola e da rede

44 Também o Reino dos céus é semelhante a um tesouro escondido num campo que um homem achou e escondeu; e, pelo gozo dele, vai, vende tudo quanto tem e compra aquele campo.

45 Outrossim, o Reino dos céus é semelhante ao homem negociante que busca boas pérolas;

46 e, encontrando uma pérola de grande valor, foi, vendeu tudo quanto tinha e comprou-a.

47 Igualmente, o Reino dos céus é semelhante a uma rede lançada ao mar e que apanha toda qualidade de peixes.

48 E, estando cheia, a puxam para a praia e, assentando-se, apanham para os cestos os bons; os ruins, porém, lançam fora.

49 Assim será na consumação dos séculos: virão os anjos e separarão os maus dentre os justos.

50 E lançá-los-ão na fornalha de fogo; ali, haverá pranto e ranger de dentes.

51 E disse-lhes Jesus: Entendestes todas estas coisas? Disseram-lhe eles: Sim, Senhor.

52 E ele disse-lhes: Por isso, todo escriba instruído acerca do Reino dos céus é semelhante a um pai de família que tira do seu tesouro coisas novas e velhas.

53 E aconteceu que Jesus, concluindo essas parábolas, se retirou dali.

54 E, chegando à sua pátria, ensinava-os na sinagoga deles, de sorte que se maravilhavam e diziam: Donde veio a este a sabedoria e estas maravilhas?

55 Não é este o filho do carpinteiro? E não se chama sua mãe Maria, e seus irmãos, Tiago, e José, e Simão, e Judas?

56 E não estão entre nós todas as suas irmãs? Donde lhe veio, pois, tudo isso?

57 E escandalizavam-se nele. Jesus, porém, lhes disse: Não há profeta sem honra, a não ser na sua pátria e na sua casa.

58 E não fez ali muitas maravilhas, por causa da incredulidade deles.

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